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Esse louco que vos fala joga aqui mais um poema.


Lacunas

o tempo levou meu tempo
a vida levou minha vida
o trabalho tomou meu trabalho
só restou a mim mesmo
que eu sempre tomo de mim
e nunca devolvo

a loucura bate a porta
a razão vai atender
- bom dia ilustre dama, o que deseja
- viver contigo e contigo morar
- mas onde vivo não dá
- precisamos encontrar um lugar
a loucura se casou com a razão
foram dividir aluguel com os sentimentos
passaram a morar dentro do meu ser
e consomem meus dias por completo
hora sou sentimento
hora razão
mas quase todo tempo loucura
o elo entre todos eles

Estêvão Cruz, 31/1/08

Contar e versar... eis uma arte!

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Salve, salve meus amigos!

Seguinte. A semana foi meio corrida e não postei mais nada. Então, para quebrar o jejum de uma semana. Vou publicar aqui dois textos que o louco acabou de escrever. Um conto e uma poesia.

Aguardo os comentários, viu?!

Obrigado por aqueles que começam a visitar meu "cantinho". Espero publicar mais (em menos tempo!).

Chega de conversa, vamos logo ao que interessa. Lá vai!

O louco escreveu, você lê e comenta. Té mais!


Desassossego

Lembrou-se de quando era uma criança. Naqueles anos tudo o que mais lhe dava prazer era ficar encostado ao peito de seu pai para ouvir histórias. Cada dia uma história diferente. Cada história com seu brilho próprio, cada dia melhor.

— Mãos na cabeça moleque! Cara no chão! Deita aí! Quietinho! — dizia aquela voz grave enquanto apontava a arma para a sua cabeça.

Os dias de chuva eram os melhores! Papai chegava mais cedo do trabalho, mamãe preparava bolinhos e os três sentavam à mesa da cozinha e ficavam ali por horas a fio entretidos em longas conversas e causos de seus pais.

— Cala essa boca! Engole essa merda de choro, seu veadinho! Fala logo, porra! Eu não tenho o dia todo!…

Como era agradável o acordar naquela casa. Mamãe, sempre pontual, acordava pela manhã, preparava o café e colocava a mesa. Papai cantarolava uma canção antiga enquanto tomava seu banho e eu acordava ao som daquela voz de barítono italiano que preenchia toda a casa. Nesses dias eu não conseguia compreender como minha vida era doce.

— Porra! Minha paciência tem limites! Diz logo, seu puto. Você quer levar uma bala na cabeça?!

Era tão bom chegar à casa da escola e encontrar mamãe de braços abertos a minha espera na varanda. Eu almoçava feliz. Ela ficava ao meu lado num zelo contínuo. As tardes passavam em meio a brincadeiras que só terminavam quando papai chegava do trabalho. Ele, ao chegar, beijava a mamãe, cochichava ao seu ouvido algumas palavras que a deixava enrubescida e me abraçava e dizia: te amo. Só depois de muito tempo fui entender o quanto aquilo era importante para mim e para mamãe.

— Digita essa porra aí. Anda, cacete, não tenho o dia inteiro, boneca! É só digitar os números e pronto! Vamos acabar logo com essa porra!

Nossas férias eram as melhores. Todos os anos íamos para a fazenda do meu avô e permanecíamos lá por alguns dias. De manhã bem cedo papai me acordava e saíamos para tirar leite da vaca, pegar alguns ovos e preparávamos um delicioso café para mamãe. A tarde todos ficávamos na cachoeira entre brincadeiras e descanso. Como eu adorava voltar para casa nos ombros de papai e como eram doces as cantigas que mamãe cantava todas as noites a beira da fogueira. Era um tempo que não mais voltaria.

Um tiro. Corri para baixo de uma mesa. Os seguranças conseguiram render três assaltantes e tentavam arrombar a porta que me prendia com aquele invasor que agora mais parecia um monstro, um dragão pronto a cuspir fogo para todos os lados.

— Se você não abrir essa merda de cofre agora eu acabo com sua vida.

2... 5... 8... puta que pariu! Qual é a combinação mesmo?! Ai, meu Deus! Respira... respira... calma.... 9... 7... 1.

O animal se jogou sobre as notas que estavam dentro do cofre e alucinado pegava o dinheiro. Agarrou-me pelos cabelos, mais uma vez colocou a arma na minha cabeça para tentar sair do cativeiro improvisado que criou.

Ao sair da sala a última imagem que lembro é a foto de papai comigo e mamãe que guardo sobre minha mesa. Meus olhos escureceram e tudo ao meu redor desapareceu. Acordei três dias depois numa sala toda branca. Ao olhar para os lados não consegui definir nada, nem mesmo quem era eu. Só sentia um gosto amargo em minha boca, o corpo cansado e um tanto machucado.

— Ei! Estou contigo, não se preocupe… tudo vai ficar bem!

Eu ouvia aquela voz familiar, mas não conseguia definir quem falava comigo. Olhei para o lado e me deparei com um espelho e nele vi minha imagem refletida.

— Não se preocupe! Eu estou contigo! Relaxe!

Olhei para o outro lado e não pude me conter. As lágrimas pularam de meus olhos ao ver papai e mamãe ao meu lado, como no tempo que era criança.

Hoje ele não é mais o mesmo. A voz de barítono italiano quase se perdeu no tempo, a vitalidade que sempre teve é mínima e seus cabelos perderam toda a cor. Mamãe se tornou uma senhorinha simpática de rosto redondo e vermelho, óculos de aros finos e o mesmo zelo de sempre.

Mais uma vez me senti uma criança e consegui encontrar descanso ao lado dos meus heróis: papai e mamãe.

Estêvão Cruz, 28/1/08.


Palavrear


bocas
loucas
silenciam
palavras
nunca ditas
num espaço de segundos

na tentativa do erro
flui a redenção
de um pedaço de papel
ou de um pedaço de pão

a mesma boca que fala
ladra
xinga
come
e a mesma que beija
lambe
berra
cala
que nos separa
do mundo
e do não

palavras
são apenas palavras
mas podem ser pedras
que ferem a alma
da cândida criatura
entregue a ilusão
presa ao silêncio
muda na razão

palavreando o mundo
verbalizando a emoção
sentido e razão
me entrego às palavras
faço delas minha casa
cama
cobertor
teto
chão
pão
vida
expressão
sigo na vida
contente
sorridente
presente
aqui
ou não

Estêvão Cruz, 28/1/08

Quem conta um conto...

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Esse louco que vos escreve, pede, mais uma vez, um pouco de sua atenção!

Entro em outra esfera de criação: o conto.

Como é algo novo para mim, fico aqui, ansioso pelo comentários!

Vamos lá, minha gente, dê um incentivo para esse louco continuar em seu ofício: Desbravar a linha da razão e tentar traduzir em palavras o subjetivo de minha mente, expor minha linha criativa em forma de versos, rimas, frases ou, para alguns, apenas palavras.

Não quero viver amaldiçoado pela palavra não dita! Quero falar e me fazer ouvir (ou ler)!

Por enquanto é só! Um abraço e um queijo! Té mais!


Uma noite de chuva

Cai uma chuva torrencial sobre a cidade. Todos estão em sono profundo. Em meio ao caos dos últimos dias ele consegue demonstrar frieza e dormir.

— Acorde! Tem um barulho estranho lá fora! — diz Rebeca, enquanto sacode o braço de Pedro.

Ele se levanta, caminha em direção a porta do quarto. Pára. Permanece pensativo por três segundos e volta a procurar o lugar de onde surgiu o barulho que atrapalhou o sono de sua mulher. Após muito procurar e nada encontrar, retorna para o quarto.

— É só a chuva — diz, enquanto se deita. Mal sabe ele que algo maior estava por vir.

Novamente todos dormem. Um estrondo abafado interrompe o sono do casal. Eles pulam da cama e saem rumo ao quarto do filho. A porta está trancada. Rebeca corre até a cozinha para procurar a chave reserva. Enquanto isso, Pedro tenta em vão contato com o filho que está trancado no quarto.

A angústia cai sobre o publicitário. O desespero toma seus sentidos. Agora ele está esmurrando a porta enquanto grita o nome do filho:

— Vítor! Vítor! Abra essa porta! — grita ele por diversas vezes, enquanto quase quebra a porta do quarto.

Lágrimas molham sua face. Rebeca, enfim, consegue achar a chave e abre a porta. Quando a porta é aberta o chão parece sumir para Pedro. O quarto está revirado, bebidas, drogas e remédios estão espalhados no chão e no centro de tudo está uma poça de sangue e no meio dela seu filho com uma bala na cabeça. Ele corre em direção ao filho e o toma nos braços e permanece ali por alguns minutos em contemplação à imagem do filho morto.

Totalmente desequilibrado, sai do quarto, desce as escadas e corre para a rua sem entender o motivo que levou seu filho a tomar tal atitude. A chuva cai cada vez mais forte e cada pingo que atinge seu corpo parecem facas e retalham a alma desse homem amargurado. Ele corre cada vez mais rápido e atravessa quadras e quadras sem se dar conta do que está fazendo.

De súbito cai. Suas pernas não mais agüentam correr. A dor que sente é tão grande que sufoca seu peito a ponto de bloquear sua respiração. Suas forças diminuem e ele consegue se lembrar de quando era feliz ao lado do filho. Do primeiro jogo de futebol que tiveram. Do primeiro dia de aula de Vítor, que chorava por ver seu pai ir embora e ter que ficar sozinho na escola. Dos aniversários felizes que proporcionou ao filho. Da primeira vez que surpreendeu o filho aos beijos com uma menina no portão de casa. Das broncas que sempre dava quando o menino chegava atrasado da escola. Do dia anterior. Da briga que tiveram. Da birra do rapaz em não querer aceitar a proibição do namoro pelo pai. Do momento em que a porta do quarto de Vitor bateu e se trancou. Da impotência que sentiu ao ver seu filho desfalecido.

Sua mente pára. Um silêncio sepulcral paira no ar. Pedro não sabe o que se passa. Nada faz sentido. De repente ouve alguém o chamando. É a voz de Rebeca angustiada:

— Acorde! Tem um barulho estranho lá fora!

Ele abre os olhos, se levanta. Para por alguns segundos na porta do quarto e se lembra do ocorrido a pouco. Corre. Arrebenta a porta do quarto do filho. Ao fazer isso, encontra o rapaz aos prantos com a arma na mão. Ele se lança sobre o filho e os dois iniciam uma briga pela arma. Acidentalmente a arma dispara e a bala ultrapassa o peito de Vítor e atinge seu pai.

Em seus últimos segundos de vida, pai e filho choram e pedem perdão e morrem um nos braços do outro. Num abraço terno, como há muito não conseguiam dar.

Estêvão Cruz, 21/1/08

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

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Hoje em dia o número de profissionais mal formados no mercado é tamanho que não é possível (e ético) listar nomes. Muitos escritores, jornalistas, buscam "inspiração" em autores consagrados para poder elaborar seus textos. O problema é que esses se esquecem de mencionar quem são os verdadeiros autores das pérolas que publicam e tomam tais escritos como seus e isso passa despercebido pela grande maioria dos leitores.

Como dizem: na vida nada se cria, tudo se copia. Hoje, mais do que nunca isso está sendo feito, mas com o descuido ou desconhecimento de uma ferramenta importantíssima e utilizada por uma grande fatia da população: a Internet! Não faço uso desenfreado de Ctrl + C e Ctrl + V, tenha a decência de "tentar" deixar o texto mais pessoal ou parafraseie ou, até mesmo, faça uma homenagem ao autor da idéia, mas nunca, nunca mesmo, diga que outro alguém disse algo que não é verdade.

Faça como esse humilde escritor, não se aproprie daquilo que não é seu, pois se não existe competência, fique quieto e não dê vexames! Como dizem, a mentira tem pernas curtas e a Internet é um livro aberto.

Por enquanto é isso! Deixo mais um poema e, em outro momento, volto a escrever. mais!

Formas

"nunca julgue um livro pela capa"
"nunca tire conclusões precipitadas"

se sou aquilo que acredito
se sou aquilo que leio
se sou aquilo que ouço
se sou aquilo que me dizem que sou
o que sou afinal?
não tenho nada de autêntico?
não tenho opinião?
tudo o que sou é produto do meio
e se o meio que vivo for torpe
serei um ser desprezível
e amaldiçoado?

sou uma forma em constante mudança
basta uma palavra e não sou mais eu...

(Estêvão Cruz, 22/10/2007)

Nem todo fim tem começo e nem todo começo tem fim

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O ano começou e outro acabou, conquistas e perdas ficam nas suas devidas gavetas e vou seguindo a vida, continuo na vida! Não sei o que o futuro me espera, nem procuro fazer muitas especulações sobre o que virá.

Como dizia o cancioneiro popular: "ando devagar porque já tive pressa", assim vivo minha vida, meus dias, na incerteza do dia seguinte, do futuro, mas com a esperança de que dias melhores virão e que conquistarei algumas coisas que ainda me impedem de ter a felicidade plena.

Assim começo meu blog, sem muitas ambições, mas repleto de esperanças.

Esse louco que voz fala, deixa seu último poema, leia, comente (se quiser) e, como sempre falo: Té mais!

Cortes

cortei um feixe de luz
e de dentro dele surgiu uma estrela
que tem um brilho tão intenso
capaz de cegar
os olhos obscuros da razão
que a todo custo tenta
controlar a emoção
que exaure pelos meus poros
a estrela nova libertou a paz
a calma
a alma
me fez renascer
feito fênix
para ser ser
sereno
dócil
impulsivo
tempestuoso
bipolar
ser eu, novamente

(Estêvão Cruz, 2/1/2008)